Obras com sistema light steel frame

Obras com sistema light steel frame

Por Gisele Cichinelli


O sistema construtivo estruturado em perfis de aço leve galvanizados já é consagrado em países como os Estados Unidos, Canadá, Chile e Japão. Mas, por aqui, ganhou mercado na década de 1990, quando começou a ser utilizado em maior escala, sobretudo no segmento industrial [veja gráfico]. A partir de então, passou a atrair empreendedores de olho nos benefícios da construção racionalizada, como a possibilidade de redução do cronograma de obra, resíduos nos canteiros e patologias no pós-obra.

"O light steel frame é uma das melhores alternativas para a construção civil. Ele se alinha com as necessidades desse século, atendendo prazos curtos com eficiência de produção e ainda reduzindo o impacto ambiental da obra", opina a arquiteta Heloísa Pomaro, proprietária da Construtora Micura, empresa que atua com o sistema há quase 20 anos.

Apesar de os benefícios do sistema serem propagados com entusiasmo pela indústria do aço e por profissionais especializados, ainda há um grande espaço a ser conquistado. Além de vencer a resistência natural do setor a experimentar novas tecnologias, a conjuntura macroeconômica deve retardar a expansão em larga escala do light steel frame. Segundo dados do Centro Brasileiro da Construção em Aço [CBCAI. em 2015 o setor registrou aumento de 2% na produção de perfis galvanizados, comparado a 2014. No entanto, a capacidade produtiva ainda estava em 50% de sua atividade. E as perspectivas para que o sistema deslanche com força na construção civil não são animadoras para os próximos anos.


De acordo com o Instituto do Aço Brasil, a indústria deve fechar 2017 em ritmo lento, com crescimento da produção de aço bruto de 3,8% em relação a 2016, totalizando 32,5 milhões de toneladas. Já as vendas internas de produtos siderúrgicos, incluindo perfis para o sistema light steel frame, devem crescer 1,3%. Confirmado esse cenário, esse setor da economia replicará os mesmos números registrados em 2006, há mais de uma década atrás. O segmento de construção leve, com o uso de steel frame, tende a permanecer nos mesmos patamares de crescimento.

OPORTUNIDADES

Mais otimista, o diretor da Bonanza Steel Frame, Sávio Neiva Coelho, acredita que essa é a hora certa para a expansão do sistema. "Este é o momento de trabalhar firme em novos projetos, sem desprezar novas pesquisas e a capacitação de profissionais", acredita o diretor, observando que sua empresa, com forte atuação no Nordeste, já bateu a marca de mais de 300 obras na região com o light steel frame e registrou crescimento da ordem de 30% nos últimos três anos. Coelho ressalta ainda que a crise deve impulsionar a adoção de tecnologias eficazes, como o steel frame, oferecendo um diferencial competitivo às empresas.

No light steel frame, vale lembrar, a estrutura das construções é composta por um esqueleto de perfis leves de aço galvanizado, fabricados dentro de uma linha de produção já com encaixes, cortes precisos e nas dimensões exatas exigidas no projeto. Quando bem projetado e executado, o sistema imprime rapidez construtiva e aumenta a produtividade da obra.

Ele pode ser usado em diversos tipos de construção, como residências - populares ou de alto padrão -, indústrias, hospitais, escolas, lojas e fachadas, permitindo a construção de edifícios com até sete pavimentos. Porém, segundo especialistas, o mais adequado e competitivo é o seu uso para a construção de casas térreas, sobrados e edifícios baixos com até quatro pavimentos, situação em que se mostra mais vantajoso do ponto de vista econômico.

SISTEMA RACIONALIZADO

Os perfis de aço, cujas espessuras variam de 0,80 milímetros a 3,00 milímetros, podem ser utilizados na composição de painéis estruturais, de parede e cobertura, e também nos demais elementos como tesouras, vigas de piso e treliças. No sistema light steel frame, a edificação é apoiada em uma laje do tipo radier, formando uma estrutura monolítica que dispensa os grandes pilares empregados na construção convencional. As lajes, paredes e cobertura trabalham em conjunto para garantir a rigidez do sistema. O esqueleto de aço pode receber fechamentos externos e internos, executados com placas cimentícias e de gesso acartonado, e a cobertura pode ser em telhas cerâmicas, de concreto ou metálicas.

Para que o sistema seja eficiente, no entanto, o ideal é que seja previsto Já no projeto arquitetônico, que deve ser concebido a fim de facilitar a paginação das placas e a sua interface com os demais subsistemas. O que, segundo a arquiteta Janiny de Oliveira Melo, da Flasan, empresa mineira especializada em construção a seco, nem sempre ocorre. "A grande maioria dos projetos já vem com a arquitetura pensada em alvenaria. O ideal seria que os projetos levassem em conta a malha estrutural que o sistema pede, de 400 milímetros x 400 milímetros, de forma a aproveitar melhor os materiais empregados", explica.


"A construção em light steel frame requer o reconhecimento das suas potencialidades e limitações, além de muito planejamento e rigor na fase de compatibilização com os projetos complementares", completa Coelho. Além da arquitetura, é preciso considerar na premissa de cálculos as ações dos ventos em cada região do país. A perfeita distribuição das cargas é outro cuidado fundamental para evitar deformações e flambagens dos perfis montantes que sustentam a construção.

Por fim, o uso de materiais com tecnologia agregada - como por exemplo o sistema PEX para águas quente e fria - também deve ser considerado na etapa de projetos, a fim de garantir a melhor interface possível dos subsistemas com a tecnologia, além de maximizar seu desempenho.

MONTAGEM E VIDA ÚTIL

De acordo com a arquiteta Janiny de Oliveira Melo, a vida útil de uma edificação construída em light steel frame pode variar de 80 a 200 anos, dependendo da qualidade da execução e dos materiais utilizados. A recomendação é utilizar somente componentes certificados em todas as etapas da obra, desde a estrutura até os revestimentos, o que impedirá o surgimento de futuras patologias que poderão comprometer a longevidade do edifício ou da residência.

Vale lembrar que erros durante a etapa de execução também podem prejudicar, e muito, a qualidade e a durabilidade da edificação. Como o sistema não aceita excentricidades, exige ajustes perfeitos, parafusamento e prumos corretos, não é qualquer profissional que pode montá-lo. Além de serem capacitados para a tarefa, os montadores devem seguir à risca o projeto estrutural, acompanhando a montagem dos painéis, sem desprezar qualquer milímetro de cota, quantidades e especificação dos parafusos, e atendendo às indicações dos projetistas para um bom desempenho da estrutura. "Os montadores têm de ser treinados e capacitados em light steel frame, mas também é recomendável que possuam conhecimento em técnicas de edificação, o que facilitará a leitura e interpretação dos mapas de montagens do projeto estrutural", lembra Coelho.

CUIDADOS DE EXECUÇÃO

A utilização de parafusos inadequados, falta de isolamento entre o solo e os perfis, e a ausência de contraventamentos [responsáveis pela resistência da construção a cargas horizontais, como esforços gerados pelos ventos] são os principais erros que podem afetar o desempenho da estrutura em steel frame. Como o sistema deve ser totalmente estanque, é necessário evitar a corrosão dos perfis de aço. Eles deverão se apoiar sobre uma manta impermeabilizante aplicada em cima do radier. Os perfis perdem parte da galvanização, sobretudo nos pontos onde são furados e cortados, por isso é fundamental evitar qualquer contato com água dentro das paredes.

Ainda durante a etapa de execução da fundação, é importante certificar-se da lisura do concreto para que o frame se apoie corretamente sobre ela. Outro ponto importante é seguir corretamente a indicação da quantidade de parafusos e espaçamentos sugeridos pelos fabricantes durante a etapa de chapeamento das placas, evitando movimentações e posteriores trincas e fissuras no conjunto construtivo.

"A execução mal realizada acarreta problemas de estanqueidade. Sem falar nas frequentes fissuras das juntas das placas de fechamentos. Para evitar este tipo de patologia. o profissional da montagem deve sempre seguir o projeto estrutural na obra. empregando os materiais de acordo com a recomendação desse e dos fabricantes, e também não desprezar as juntas de dilatações e a impermeabilização das áreas molhadas", observa Coelho.

Para garantir o bom desempenho térmico e acústico nas edificações com estrutura de light steel frame, a execução de paredes deve incluir o uso de mantas impermeabilizantes, enchimento de material isolante termoacústico e placas de vedação. Segundo o CBCA, é possível. por exemplo. utilizar placas cimentícias nos fechamentos externos enquanto as placas de gesso acartonado podem ser usadas nos fechamentos internos da edificação. Ambas devidamente protegidas com materiais específicos para esse fim.

VELOCIDADE DE OBRA NO PAVILHÃO OLÍMPICO

O light steel frame foi o sistema eleito para a construção do Pavilhão da Cidade Olímpica no Rio de Janeiro. Com a técnica construtiva, foi possível viabilizar o projeto e erguer em apenas 60 dias o prédio que abrigou o Rio Media Center [RMCI. local que recebeu representantes das mídias nacionais e internacionais durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.

O uso do light steel frame em uma obra com formas sinuosas, com fachada e cobertura que remetem aos traços de Oscar Niemeyer, mostrou que é possível adotar sistemas industrializados para estrurar projetos ousados de arquitetura. A estrutura, com pé-direito de 10 metros e com grandes vãos livres que chegavam a até 23 metros, foi toda erguida com perfis de aço leves galvanizados. o que impactou diretamente no peso próprio e. consequentemente. em redução de custos com as fundações. Outras vantagens proporcionadas pelo aço leve nesse projeto foram a facilidade de montagem e a redução do uso de equipamentos de movimentação mais robustos no canteiro.


Crédito: http://www.cbca-acobrasil.org.br/